Ao norte de mim mesmo

Autor: Gabito Nunes

Noah, como diz sua mãe aos domingos, é um rapaz frio e insensível. É músico, mas sabota sua vocação, ofuscado pelo estrondoso sucesso de seu pai no grande Festival de 1968 – cujos royalties o salvaram de um emprego sério. Entre seus passatempos estão: perguntar-se o que faria John Lennon em cada situação; escolher mentalmente a trilha sonora adequada ao momento; e imaginar o paradeiro de Ana, seu grande amor (ou “a garota desgraçada que foi embora e ferrou com a minha vida”). Como se pode ver, tudo vai bem. Até que uma proposta boba e indecente joga uma outra garota de paraquedas na sua existência mediana, o forçando a ser feliz; coisa que, para o neurótico Noah, não é uma tarefa confortável. Mas esta não é uma história corriqueira, sobre um rapaz que encontra uma garota e pronto. As relações são tão ou mais complicadas do que as canções. Algumas histórias são feitas de triângulos pontiagudos que perfuram os envolvidos. Recheada de rock e outras referências pop, Ao Norte de Mim Mesmo redesenha nossa noção de sucesso e fracasso, numa perseguição frenética ao que melhor fizer sentido: passado, presente ou futuro; onde estiver o norte que cada um de nós precisa decidir onde fica. Retrato das possibilidades românticas da Geração Y, conduz o leitor na carona de um romance sobre quatro partes de um amor que, mesmo com todas as peças reunidas, não passa de um eterno meio-amor. Em seu romance de estreia, Gabito mistura sátira hollywoodiana com road-novel. Com tendência à autoironia, diálogos precisos e prosa influente e contumaz, o narrador aproxima a literatura do rock, atraindo o leitor para uma jornada fulminante e irrecusável. – Você me apavora, Noah. Não quero ser apavorada a todo momento. Eu costumava saber muito bem onde andava pisando, onde ficava meu norte, e agora... isso me dá medo. Não estou disposta a sentir medo. – O medo não passa de uma oportunidade para mostrar coragem. Agarre. Aquela sua segurança de sempre não tinha nada de corajosa, era só medo de sentir medo. – Não posso prometer nada a você, simplesmente não consigo. Me desculpa. É mais forte que eu, quase patológico. Eu queria, mas não dá. – Sua presença nos meus dias até aqui já foi uma grande promessa, garota. Você mal sabe que já está em apuros desde a primeira vez que a gente se cruzou. No mais, essa corrida insana deve durar até quando?

Avaliações

0.0/5 pontuação (0 votos)

Compartilhe


Comentários