Travessia

Publicado em 01 Agosto 2015,

Autor: Caine Teixeira Garcia

Em suas famosas “Cartas a um Jovem Poeta”, o consagrado escritor Rainer Maria Rilke sugere ao aspirante a poeta Franz Kappus: “Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.” Mais que necessidade, Caine escreve “por vício”, como afirma no poema “Compulsória”. E exerce seu vício – e sua necessidade – com os pés bem firmes na Campanha, de onde vem, mas com os olhos no infinito, seguindo a máxima de Tolstoi de que é preciso cantar a aldeia para alcançar a universalidade. Desta forma, mescla ecos de João Cabral (como em “O Lado Escuro da Sombra”) com Lauro Rodrigues (“Compulsória”) e mesmo Aureliano de Figueiredo Pinto (nos versos livres de “Das Estações” ou “Destaperado”). Com a mesma sensibilidade que utiliza para registrar em fotos a cena rural da região da fronteira, Caine desenha seus versos ancorado no poder visual da imagem pampeana, naquele modo retórico que Ezra Pound classificou como “fanopeia” em seu “ABC da Literatura”. Sem, no entanto, perder o sentido musical do poema (“melopeia”). Não é de outra forma que se apreende, por exemplo, “O Lamento da Tesoura”, “A Uma Estrela de Chão” ou “Pedra de Rio”. Advogado por formação, emonstra sua preocupação com a temática social em poemas como “O Pária” , “Cenário de Miséria” e “De Que Valem as Bandeiras”, mas também canta seu amor pela prenda escolhida (“Eu hei de fazer-te milonga / Como prometi um dia / E por conter minhas verdades / Eu vou chamá-la de Lia”) em “MilongaLIA” e “História de Mar e Amor”. Afirma sua fidelidade aos amigos (“Renasci Canário”), reservando aos desafetos fina ironia (“Milonga Lugar-Comum”). Autor premiado no cenário poético-musical sul-riograndense, Cine resume-se nos versos de “Se Tu Sangrares Melancolia”: “O martírio de escrever É a salvação do poeta” Marcelo D’Ávila Santana do Livramento, 12 de setembro de 2014

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